Por Túlio Velho Barreto*Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco Desde a sua realização, na última segunda-feira, o debate entre (quase todos) os candidatos ao Governo do Estado na TV Clube tem sido o tema principal da propaganda eleitoral obrigatória.
E os seus desdobramentos têm pautado a m?dia local.
Portanto, apesar de tê-lo comentado em tempo real no Blog, volto ao tema para tratar de alguns de seus efeitos sobre a União por Pernambuco, que tem mantido a dianteira na disputa majoritária estadual.
Começo destacando a presença do governador-candidato Mendonça Filho (PFL, União por Pernambuco) no debate.
De fato, não é comum o primeiro lugar nas pesquisas eleitorais participar de tais eventos.
Basta observar a posição do presidente-candidato Lula a respeito.
E os debates em alguns estados, como, por exemplo, em São Paulo, onde José Serra também não tem comparecido.
Mas há algumas diferenças entre os três citados, diferenças que talvez tenham pesado na decisão de Mendonça Filho de comparecer, pelo menos ao primeiro debate: o fato de Lula e Serra serem bem conhecidos dos eleitores, tendo disputado eleições similares ou até mais amplas, como no caso de Serra, e gozarem de elevado e irrefutável favoritismo.
Aqui, os principais competidores de Mendonça Filho, Humberto Costa (PT, Melhor para Pernambuco) e Eduardo Campos (PSB, Frente Popular de Pernambuco), aparentemente não têm mais experiência pol?tica do que Mendonça Filho, embora ambos tenham sido, recentemente e por pouco tempo, ministros do Governo Lula.
Por sua vez, Mendonça Filho foi vice-governador por cerca de sete anos, tendo sido um vice extremamente atuante na condução da máquina administrativa do Estado, estando no cargo de titular há alguns meses.
E é candidato à reeleição, o que, sem dúvida, tem sido uma vantagem desde que foi institu?da.
Então por que o debate não foi exatamente o que certamente Mendonça Filho e seus assessores esperavam?
Para responder esta pergunta, é necessário destacar um fenômeno recente da pol?tica estadual.
Com efeito, a chamada “aliança jarbista???, que tomou forma sob a denominação de União por Pernambuco, foi formada originalmente por PMDB e PFL, em 1993, e depois ampliada com a incorporação do PSDB e outros pequenos partidos.
Disputou e venceu eleições para a Prefeitura do Recife, uma vez, com Roberto Magalhães (PFL), em 1996, e duas vezes, com o próprio Jarbas Vasconcelos, eleito governador em 1998 e 2002.
Mas perdeu duas eleições para a Prefeitura do Recife, com o próprio Magalhães disputando a reeleição, em 2000, e Cadoca (PMDB), em 2004.
A “aliança jarbista???, como a própria denominação deixa claro, tem a marca do seu principal mentor pol?tico e mantenedor eleitoral, isto é, o ex-governador Jarbas Vasconcelos.
Os outros mentores e mantenedores, que estão na outra extremidade do espectro ideológico que a viabilizou e a sustenta, o PFL, são, inegavelmente, o senador Marco Maciel, o deputado federal Mendonça Filho e o ex-ministro e governador de Estado Gustavo Krause, para ficar apenas em três nomes.
Com exceção do deputado federal Roberto Magalhães, que antes de ser prefeito já tinha brilho próprio, tendo sido, inclusive, governador de Estado -mas que tombou diante da novidade que representou/representa João Paulo na pol?tica local -, as disputas seguintes foram ganhas pelo próprio Jarbas Vasconcelos ou resultou em derrota de um pol?tico forjado em sua sombra.
Refiro-me, é claro, a Cadoca e as eleições municipais de 2004.
Lembro que toda a campanha do candidato do ex-governador procurou explorar a forte ligação entre eles.
Mas Cadoca e seus assessores jamais conseguiram mostrar que o candidato tinha uma trajetória pol?tica e administrativa que o credenciava a ser prefeito do Recife.
Assim, como opção eleitoral, a União por Pernambuco ainda não conseguiu se viabilizar sem que aquele que lhe empresta até o nome esteja disputando o cargo.
E assim como ocorreu com Cadoca em 2004, agora Mendonça Filho despontou como o candidato natural do ex-governador Jarbas Vasconcelos.
E toda sua trajetória pol?tica e de gestor público tem sido associada ao ex-governador, sendo este o seu maior trunfo segundo a propaganda eleitoral obrigatória procura ressaltar.
O t?mido e às vezes vacilante comportamento do governador Mendonça Filho no debate de segunda-feira mostrou a dificuldade que candidatos que não possuem ainda brilho próprio têm tido em disputas majoritárias, mesmo quando aparentemente os seus adversários têm mais o quê explicar aos eleitores que ele próprio.
Portanto, a partir de agora, o maior desafio de Mendonça Filho, como primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de votos até aqui, será recuperar a confiança e mostrar ao eleitor que não é apenas o candidato do ex-governador Jarbas Vasconcelos, de quem foi vice-governador, fato que, aliás, fez questão de destacar todo o tempo no debate.
Caso contrário, poderá repetir o vacilante Cadoca de 2004, que começou a se complicar exatamente após o primeiro debate entre os candidatos a Prefeito do Recife. *Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, 48, é um dos autores dos livros Democracia e Instituições Pol?ticas Brasileiras no final do Século XX (MCP-UFPE/Bagaço, 1998) e Nordeste 2004 - O Voto das Capitais (Fundação Konrad Adenauer, 2005).
Co-organizou e participou dos livros Na Trilha do Golpe - 1964 revisitado (Editora Massangana, 2004) e A Nova República - Visões da redemocratização (Cepe/JC, 2006), que resultaram de séries especiais publicadas pelo Jornal do Commercio em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.