Por Túlio Velho Barreto*Cientista pol?tico e pesquisador da Fundajtulio@fundaj.gov.br Em pol?tica, nada (ou quase nada) ocorre por mero caso.

Em todas (ou em quase todas) as disputa pol?tica – por exemplo, as eleitorais - os atores agem em busca de seus próprios objetivos.

Para tanto, levam em consideração o que imaginam que estão pensando os seus adversários e como eles reagirão a cada iniciativa sua.

E mais: sabem que estes fazem o mesmo, o tempo todo.

Por isso, em geral, todos são ego?stas (pensam mais em si e em seus interesses pessoais ou partidários).

E, raramente, são altru?stas (entendido aqui no sentido oposto ao indicado entre os parênteses anteriores).

De forma bastante simplificada, isto é o que chamamos de "racionalidade pol?tica", inerente aos assim denominados "atores pol?ticos" – pelo menos, por aqueles que utilizam o aparato teórico da Escolha Racional para compreender e explicar as opções e ações dos atores pol?ticos quando envolvidos em disputas diversas.

Esta breve introdução serve para que se analise aqui o delicado momento vivido pelo candidato petista Humberto Costa (da coligação Melhor para Pernambuco) ao Governo Estadual.

E dizer porque, assim me parece, o candidato se encontra, pelo menos no momento, entregue à sua própria sorte ou, mais precisamente, daqui para frente, ao seu esforço próprio na disputa estadual.

Para tanto, vou relembrar seu caminho, suas opções e escolhas até este momento, que é, sem dúvida, o mais dif?cil de sua candidatura, em função do anúncio de seu indiciamento pela Pol?cia Federal por suposto envolvimento com o que se convencionou chamar de "escândalo dos vampiros".

Em outros momentos, sobretudo em artigos e entrevistas em jornais, chamei a atenção para a disputa nem sempre silenciosa entre o ex-ministro Humberto Costa e o prefeito do Recife, João Paulo (PT), e entre ele (Humberto Costa) e o também ex-ministro Eduardo Campos (PSB), visando contar com o apoio do (favorit?ssimo à reeleição) presidente Lula e de seu amplo eleitorado (inclusive, em Pernambuco).

Foram disputas em dois n?veis: interno, no PT, onde Humberto Costa e a tendência Unidade na Lula, da qual ele faz parte, têm o controle da legenda no Estado; e externo, onde, escolhido pelo PT, após desgastante processo interno, passou a disputar com outros dois candidatos a preferência do presidente-candidato e de seu eleitorado, isto é, Armando Monteiro Filho, inicialmente candidato pelo PTB, que hoje lhe apóia, e o próprio Eduardo Campos (Frente Popular de Pernambuco). É preciso lembrar que antes de estourar o "escândalo do mensalão", a idéia da direção do PT e do próprio presidente Lula era a de incentivar, em todo o pa?s, nomes como o de Humberto Costa, com prest?gio estadual e com passagem pelo Governo Federal, a disputar uma vaga à Câmara Federal.

Seriam os puxadores de votos para que o PT ampliasse a bancada e garantisse um peso maior do partido nas decisões da Câmara Federal.

Muitos poderiam ser eleitos, nos estados, em função do coeficiente partidário propiciado pela "cauda" que tais candidaturas gerariam.

Acontece que, durante a primeira metade do mandato, ou seja, antes de estourar o referido escândalo, o presidente Lula "aprendera" que não era (e não seria) dif?cil governar tendo governadores de outros partidos nos executivos estaduais nem sequer com governadores de oposição (vide a relação pol?tica e administrativa que o presidente estabeleceu com o governador Jarbas Vasconcelos).

Assim, o presidente e a direção petista "apostavam", aqui, possivelmente, nas candidaturas de João Paulo, em função das duas eleições majoritárias ganhas por ele no Recife e o prest?gio alcançado, ou de Eduardo Campos, um importante aliado, para o Governo Estadual.

Mas, com o "escândalo do mensalão", veio a crise pol?tica, que atingiu o Governo Lula e o PT.

Então, para salvar o seu governo, o presidente Lula preferiu, por assim dizer, "rifar" o PT, e muitos de seus membros, jogando-os à própria sorte.

Com a crise pol?tica estabelecida, o presidente procurou, inicialmente, salvar o (primeiro) mandato, para, em seguida, tentar conquistar outro.

Para tanto, afastou-se do PT, mas, igualmente, das disputas estaduais.

E, a?, Humberto Costa, sem atropelos apenas aparentes, é certo, analisou suas opções e fez suas escolhas.

E tornou-se candidato do PT ao Governo Estadual, fornecendo um dos dois palanques do presidente-candidato Lula em Pernambuco.

Como já disse aqui mesmo neste Blog, mas em outro artigo, o foi bom para Lula, mas ruim para Humberto, que, logo, se transformou em candidato do "rifado" PT.

E mais: tendo que dividir o prest?gio do Governo Lula, do qual fez parte, e do presidente-candidato com o outro candidato da oposição ao Governo Mendonça Filho (PFL), o ex-ministro também Eduardo Campos.

Agora, o anúncio do indiciamento do ex-ministro Humberto Costa por seu suposto envolvimento com o "escândalo dos vampiros" neste momento da campanha, mas, sobretudo, seu uso pol?tico, que começou hoje na propaganda eleitoral obrigatória, não devia surpreendê-lo. É evidente que a oposição estadual ao Governo Lula, representada pela União por Pernambuco, suas principais legendas (PFL, PMDB, PSDB e PPS) e lideranças (Jarbas Vasconcelos, Mendonça Filho, Sérgio Guerra e Roberto Freire/Raul Jungmann), não deixariam de utilizá-lo, já que são todos politicamente racionais.

Se alguém pensava ou esperava que isso não fosse acontecer foi politicamente ingênuo, ainda que racional.

E não levou em consideração a recorrência de fatos semelhantes na história pol?tica pernambucana.

Por exemplo, não levaram em consideração como se deu a disputa estadual em 1998, quando os seus adversários, isto é, a União por Pernambuco, chegou ao poder derrotando Miguel Arraes em 1998.

Refiro-me ao chamado "caso dos precatórios", que, aliás, poderá voltar ao centro do debate, ainda este ano, se (e quando) Eduardo Campos se tornar "a bola da vez". *Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, 48, é um dos autores dos livros Democracia e Instituições Pol?ticas Brasileiras no final do Século XX (MCP-UFPE/Bagaço, 1998) e Nordeste 2004 - O Voto das Capitais (Fundação Konrad Adenauer, 2005).

Co-organizou e participou dos livros Na Trilha do Golpe - 1964 revisitado (Editora Massangana, 2004) e A Nova República - Visões da redemocratização (Cepe/JC, 2006), que resultaram de séries especiais publicadas pelo Jornal do Commercio em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.