Por Matheus MachadoNa revista Época desta semana O empresário Luiz Antônio Vedoin, o delator que provocou um dos maiores escândalos da história do Congresso Nacional, parece estar fazendo estranho jogo duplo.
Apontado como chefe da quadrilha das sanguessugas, no dia 26 de junho Vedoin deu um longo depoimento ao juiz federal Jefferson Schneider, de Mato Grosso.
No interrogatório, inocentou 82 parlamentares de envolvimento com o esquema de corrupção na venda de ambulâncias a prefeituras de todo o pa?s.
Suas declarações foram ratificadas por Darci Vedoin, pai e sócio, 25 dias depois.
Há duas semanas, Vedoin deu uma entrevista a ÉPOCA e mudou completamente sua versão.
Incriminou vários parlamentares antes poupados no depoimento à Justiça.
Entre eles, há deputados com cargos de destaque na Câmara, como Ricardo Izar (PTB-SP), presidente do Conselho de Ética, Ciro Nogueira (PP-PI), corregedor, José Múcio Monteiro (PTB-PE), l?der do partido, e Luiz Piauhylino (PSB-PE), ex-corregedor.
Vedoin é um empresário envolvido em um esquema corrupto, que movimentou cerca de R$ 110 milhões do Orçamento para a compra de ambulâncias superfaturadas em 600 munic?pios de 24 Estados.
O esquema tinha a participação de 84 parlamentares, segundo as investigações do Congresso e da Justiça.
A decisão de Vedoin de colaborar com a Justiça é facilmente compreens?vel.
Ele queria escapar da cadeia.
Sua nova disposição de aumentar a lista de envolvidos no escândalo não é tão fácil de entender.
Ele diz que não citou os nomes antes porque “era muita informação”, e não tinha como lembrar de tudo.
Mas o fato de eleger a imprensa como foro privilegiado das novas denúncias, em vez do Ministério Público, coloca a lista em suspeição. “Vai publicar alguma coisa disso a??”, perguntou Vedoin ao repórter de ÉPOCA. “Não sei, tem algum problema?”, respondeu o repórter. “Claro que não.
Acho até interessante, porque são uns falsos moralistas.” Uma possibilidade é que Vedoin tenha remexido velhos papéis e encontrado o nome dos novos suspeitos.
Para ÉPOCA, ele apresentou uma planilha de 2004 (leia o quadro).
Outra hipótese é que ele tenha resolvido atingir cúmplices que antes protegia, porque se desentendeu com eles.
Um ind?cio disso é que, numa das conversas com ÉPOCA, afirmou que pretende divulgar na imprensa todos os nomes dos parlamentares que lhe devem dinheiro. “Assim, posso receber mais rápido”, afirmou.
Uma terceira hipótese é que ele esteja simplesmente inventando acusações. É o que afirmam os novos acusados, ouvidos por ÉPOCA.
No entanto, grande parte das denúncias de Vedoin tem sido comprovada pelas investigações do Ministério Público.
Segundo Vedoin, Izar, Ciro Nogueira, José Múcio e Piauhylino teriam participado das fraudes por intermédio de uma lobista do esquema até agora desconhecida das autoridades: Cristianne Mayrink Sampaio Silva Neto, de 28 anos, uma mulher bonita sempre vista em companhia de deputados nos corredores do Congresso e em restaurantes badalados de Bras?lia.