Por André Regis*Cientista pol?tico O Presidente Lula é o maior fenômeno da comunicação de massas das democracias contemporâneas.

Nisso ninguém pode ser tão bom quanto ele.

Ainda não temos o devido distanciamento histórico para explicar como foi poss?vel sua recuperação.Até agora tudo que foi dito sobre as razões do sucesso de Lula é insuficiente para justificar como é que um presidente, cujo governo acabou há quase dois anos, é franco favorito a sua própria sucessão.

A sucessão de eventos que destruiriam, normalmente, qualquer pretensão eleitoral do presidente é extensa.

A crise pol?tica paralisou o governo.

A última reforma ministerial piorou muito o primeiro escalão; o ministério é formado por ilustres desconhecidos (em pastas importantes como a da educação, por exemplo) e pol?ticos sem a menor credibilidade nem credenciais para a ocupação dos postos.

Recentemente, o ministro Hélio Costa foi envolvido em mais uma denúncia de corrupção.

Como de costume, nada aconteceu.

No guia do presidente são ressaltadas suas grandes obras como a Ferrovia Transnordestina, a Refinaria de Pernambuco (que no guia já aparece, inclusive, pronta).

O metrô do Recife aparece entre as realizações do Governo Lula, um acinte ao recifense que anda de ônibus e sonhar ver a conclusão das obras de expansão do metrô.

Infelizmente, a realidade é outra.

O governo Lula é o maior recordista de obras virtuais da história do Brasil, nunca se prometeu tanto e se fez tão pouco.

Não consegui lembrar uma única obra iniciada e conclu?da em seu governo, em Pernambuco.

O interessante é que, virtuais ou não, as obras de Lula o favorece.

Pois basta anunciar um novo investimento para seu prest?gio aumentar.

Além disso, gera-se o justo e razoável receio de que, sem Lula, os projetos não sejam levados adiante.

No campo social, o governo foi uma decepção do ponto de vista conceitual e um tremendo sucesso na perspectiva do marketing pol?tico.

Como o programa “fome zero???, até mesmo por sua equivocada concepção originária (baseada na distribuição de alimentos), foi um fracasso, rapidamente, o governo simplesmente juntou os quatro programas sociais de seu antecessor, entre eles o “bolsa escola???, num único programa, chamado “bolsa fam?lia???.

Ou seja, a única novidade no campo social foi uma duvidosa fusão de programas, uma vez que razoáveis programas de transferência de renda e de combate ao analfabetismo e à miséria foram transformados num programa meramente assistencialista.

Deve-se ressaltar a gigantesca ampliação dessa assistência.

No campo econômico, o governo Lula pode ser considerado o mais sortudo da história do Brasil.

As reformas implementadas pelo setor produtivo na década de 1990 e o ambiente externo favorável ao longo dos últimos cinco anos fizeram com que a economia brasileira se mantivesse em pequena expansão, apesar do governo e não por causa dele.

Não obstante, o Presidente atribui o “sucesso??? (que não é sucesso algum crescer apenas mais do que o Haiti, entre os pa?ses da América Latina) às suas viagens ao exterior e não ao esforço do setor produtivo e das reformas implementadas após o Plano Real, como as quebras dos monopólios ou privatizações.

Ou seja, o Presidente não plantou (de fato, atrapalhou o plantio o quanto pôde) e agora colhe os frutos.

E de algum modo ainda se apropria dos resultados positivos, como se os mesmos fossem frutos exclusivos do seu trabalho.

No campo do combate à corrupção, um desastre.

Segundo a Transparência Internacional (Organização Não-Governamental, sediada na Holanda), a corrupção aumentou muito no Brasil ao longo da era Lula.

Anualmente essa organização atribui nota de zero a dez a todos os pa?ses, para formar o chamado ?ndice internacional de corrupção.

Em 2001, no governo FHC, o Brasil ocupava a posição 46 no ranking com nota 4.0.

No governo Lula, ca?mos para a posição 62 com nota 3.7 (levantamento feito antes da crise do mensalão e do escândalo das sanguessugas, ou seja, neste ano de 2006 a posição do Brasil deve ser ainda pior).

Vale destacar que essa inversão foi uma triste surpresa, pois desde 1995 o Brasil vinha, de modo significativo e constante, melhorando sua posição nesse “ranking???.

No campo pol?tico, as relações executivo-legislativo foram prom?scuas ao extremo.

A compra de deputados, com o dinheiro obtido do setor público pela cúpula do Partido dos Trabalhadores, revelou que este governo não teve limites de natureza moral, ética ou republicana.

Resultado, após as revelações de Jefferson, e o fim do mensalão, já faz mais de um ano que a oposição tomou conta do Senado e que o governo perdeu consideravelmente sua base de apoio na Câmara dos Deputados.

E o mais instigante para o pesquisador é que essa lista de escândalos não é exaustiva, apenas exemplificativa.

Realmente, vamos precisar de muitas reflexões para que alcancemos alguma conclusão a respeito do sucesso do presidente Lula junto ao eleitorado (vale destacar, no entanto, que entre os eleitores de alta renda e alta escolaridade o desempenho do presidente é muito ruim), conforme demonstrado nas últimas pesquisas de intenção de voto. *André Regis, 38, é Ph.D. em Ciência Pol?tica pela New School For Social Research – Nova York, EUA.

Doutor em Direito pela UFPE, é professor de Direito Constitucional da AESO e da Escola Superior de Magistratura de Pernambuco