Por Túlio velho Barreto*Cientista Pol?tico e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco A revista Época desta semana (no 431, de 21/8/2006) traz uma reportagem muito interessante abordando a propaganda eleitoral obrigatória nacional, em especial a disputa entre o presidente-candidato Lula (PT) e o principal candidato da oposição, Geraldo Alckmin (PSDB).

O t?tulo da reportagem é uma indagação de teor bastante sugestivo, "Missão imposs?vel?", e dá a dimensão do desafio que terão os assessores e marqueteiros de Alckmin para reverter a vantagem de Lula nas pesquisas de intenção de votos até aqui.

A Época mostra que, desde a primeira eleição direta para presidente da República depois do golpe civil-militar de 1964, ocorrida em 1989, a propaganda eleitoral no rádio e na TV não contribuiu para mudar o quadro apontado pelas pesquisas no momento exatamente anterior ao in?cio do guia, sobretudo no que diz respeito à disputa nacional.

Pois, como ressalta, ocorreram, apesar de poucas, algumas "viradas" em importantes disputas estaduais e municipais.

De toda forma, as eleições presidenciais ocorrem mais longe do eleitor do que as eleições estaduais e municipais.

Estando, portanto, a princ?pio, menos suscet?veis a grandes mudanças de rumo.

De fato, apesar da revista mostrar a recorrência dessa situação em três eleições apenas (ver abaixo) – mais precisamente nas eleições de 1994, 1998 (FHC venceu ambas) e 2002 (Lula venceu) - o próprio texto lembra que Fernando Collor de Mello, em 1989, já liderava as pesquisas quando o guia teve in?cio na disputa de 1989.

E mais: isso ocorreu mesmo em 1994, quando Lula partiu na frente, mas foi surpreendido, ainda antes da propaganda obrigatória começar, pelo anúncio e o sucesso do Plano Real, que impulsionou decisivamente a candidatura de FHC.

O que a reportagem não explicita, e gostaria de destacar aqui, é que, de modo geral, a propaganda eleitoral obrigatória tem contribu?do para consolidar o quadro apontado pelas pesquisas de intenção de voto no momento em que ela tem in?cio.

Além disso, há outras informações nos quadros produzidos pela Época que merecem ser destacados e cotejados com os últimos números levantados, por exemplo, pelo instituto Datafolha, divulgado pela Rede Globo na última terça-feira, dia 22.

Mas, primeiro, vamos aos quadros da Época sobre as três últimas eleições presidenciais (clique aqui para vê-los).

Até hoje os programas eleitorais não mudaram as eleições Comparando os percentuais alcançados pelos demais candidatos da oposição, além do segundo colocado, nas eleições de 1994, 1998 e 2002, temos os seguintes cenários: em 1994, FHC (candidato da situação, pois apoiado pelo então presidente Itamar Franco) venceu o primeiro turno, com Leonel Brizola e Orestes Quércia, respectivamente, em terceiro e quarto lugares, alcançando menos de 10% desde o in?cio do processo eleitoral; em 1998, novamente FHC venceu no primeiro turno, com Ciro Gomes e Enéas Carneiro, respectivamente, em terceiro e quarto lugares, igualmente abaixo dos 10% durante o processo eleitoral; e, finalmente, em 2002, em uma eleição at?pica, considerando as outras duas citadas, Lula ganhou apenas no segundo turno, enfrentado candidatos que, desde o começo do processo eleitoral, tinham percentuais acima dos 10%, com Anthony Garotinho e Ciro Gomes - este, inclusive, chegou a estar em segundo -, respectivamente, em terceiro e quarto lugares.

Todos estes dados podem ser conferidos nos quadros da Época.

Agora, em 2006, o presidente-candidato Lula mantém a dianteira desde que os institutos começaram a realizar e a divulgar suas pesquisas de intenção de voto para presidente, mesmo durante o funcionamento de três CPIs, que investigaram o seu Governo.

E enquanto a aprovação ao Governo Lula variou razoavelmente, no mesmo per?odo, sua popularidade se manteve em patamares bem acima dele.

E agora, o que dizem tais dados após uma semana de propaganda eleitoral obrigatória?

Bem, considerando os dados apurados pelo Datafolha, e divulgados pela Rede Globo, após uma semana de guia no rádio e na TV, o presidente-candidato Lula ampliou sua vantagem para o segundo lugar, Geraldo Alckmin, enquanto apenas a senadora Helo?sa Helena (P-SOL), dentre os demais, alcançou a barreira dos dois d?gitos.

O que parece pouco para ameaçar a reeleição do presidente.

E reproduz, mais uma vez, a tendência verificada nas eleições presidenciais pós-regime militar(Conferir os dados aqui).

Isto é, (1) o horário eleitoral obrigatório parece não afetar o quadro anterior ao seu in?cio; e (2) se a eleição permanecer polarizada, como a atual, pode mesmo ser resolvida ainda no primeiro turno.

Finalmente, o Datafolha ainda mostrou, no mesmo levantamento, feito, repito, após a primeira semana do guia, que o Governo Lula conta com o maior ?ndice de aprovação registrada por aquele instituto desde que começou a fazê-lo (veja aqui os números).

Embora cada eleição sofra influência de inúmeras variáveis, e aqui tenha sido observado apenas o que esta eleição tem tido de comum em relação às anteriores, a missão dos assessores e marqueteiros, e do principal candidato da oposição, Geraldo Alckmin, parece, pelo menos por enquanto, mesmo imposs?vel.

Talvez isto explique o abandono de sua candidatura pelo governador tucano do Ceará, Lúcio Alcântara, e a indiferença do governador Mendonça Filho (PFL) e do ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), ambos de Pernambuco, a despeito da presença do senador José Jorge (PFL) na chapa do tucano.

De toda forma, nunca é demais lembrar que, hoje, as campanhas estaduais se baseiam largamente em análises acerca das preferências dos eleitores medidas pelos institutos de pesquisas. *Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, 48, é um dos autores dos livros Democracia e Instituições Pol?ticas Brasileiras no final do Século XX (MCP-UFPE/Bagaço, 1998) e Nordeste 2004 - O Voto das Capitais (Fundação Konrad Adenauer, 2005).

Organizou e participou dos livros Na Trilha do Golpe - 1964 revisitado (Editora Massangana, 2004) e A Nova República - Visões da Redemocratização (Cepe/JC, 2006), que resultaram de séries especiais publicadas pelo Jornal do Commercio em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.