Por Inácio FrançaJornalista e consultor do UNICEF Quando César Rocha teve a idéia de me convidar para escrever aqui no Blog do JC, sua intenção era me convencer a escrever artigos ou crônicas que ajudassem a analisar como os temas sociais estavam sendo tratados na campanha eleitoral.

Ele botou na cabeça que meu atual ganha-pão como consultor do UNICEF me dava moral para tanto.

Não me animei.

Falar das temáticas sociais num estado com ongueiros saindo pelo ladrão, não-sei-quantos especialistas em saúde pública e outros tantos educadores ligados emocional ou historicamente a Freire?

Seria arrumar muita sarna pra se coçar.

Estava prestes a declinar do convite, quando encontrei a sa?da para não desiludir meu amigo César, colega de Unicap e de movimento estudantil: "César, ultimamente ando lendo bastante sobre o papel da m?dia e outras coisas assim.

Vou tentar até fazer um mestrado sobre essas coisas.

Que tal escrever sobre o comportamento da m?dia nas eleições?" Ele gostou da contra-proposta e ficamos combinados.

Vou tentar escrever sobre a m?dia e a pol?tica.

Quando não estiver inspirado, recorrerei aos temas sociais.

Então, pra começar, voltarei quatro anos no tempo.

Em 2002, a cobertura jornal?stica das eleições presidenciais proporcionou dois dos melhores momentos da história recente da Imprensa brasileira.

Numa atitude até então inédita, dois ve?culos de comunicação prestaram um enorme serviço à democracia: a revista Carta Capital publicou um texto escrito pelo seu diretor, Mino Carta, tornando público o posicionamento da empresa favorável ao candidato Lula.

Quase ao mesmo tempo, o jornal Estado de S.Paulo veiculou na capa um editorial explicitamente a favor do tucano José Serra.

Atitudes para aplaudir de pé.

A partir do instante em que publicaram tais editoriais, os ve?culos deixaram claro para todos que não estavam dispostos a enganar ninguém.

Seus leitores ficaram cientes que as reportagens, os artigos, os comentários dos colunistas ou as notinhas das seções da Carta ou do velho Estadão não foram publicadas gratuitamente, mas, sim, sob o aval de uma linha editorial transparente.

A revista e o jornal foram honestos não apenas com seus leitores, mas com todos os candidatos e suas fontes nos partidos pol?ticos.

Os ve?culos citados se tornaram uma exceção apenas ao assumir publicamente suas respectivas posições pol?ticas.

Pois toda e qualquer empresa de comunicação tem sua posição pol?tica, está ligada diretamente ou indiretamente a algum grupo pol?tico.

Isto não é espúrio nem ileg?timo, é inevitável.

O montante de dinheiro movimentado diariamente por um empresa de comunicação não permite que nenhuma delas seja neutra.

Ensinado como verdade inquestionável nas universidades de jornalismo, o duplo mito da imparcialidade/objetividade serve apenas para escamotear, confundir e mascarar esses interesses, esses v?nculos, sempre presentes na cobertura jornal?stica cotidiana e não apenas em momentos especiais como as eleições.

A imparcialidade não existe, jamais existiu.

Felizmente.

O mesmo racioc?nio se aplica aos profissionais de imprensa: âncoras de TV, editores, radialistas ou repórteres.

Quem não tem interesse, tem opinião.

Quem não tem opinião, tem interesse.

Quando abro um jornal, por exemplo, e um texto de um colunista autodeclarando sua isenção ou neutralidade, fico na defensiva e sou capaz de apostar que o sujeito subestima a inteligência dos seus leitores e colegas de redação.

E como não estou aqui pra enrolar César Rocha e seus leitores, acho que é necessário deixar as coisas bem claras desde o in?cio: o conjunto de idéias, a dinâmica do meu racioc?nio, o meu modo de enxergar o mundo e meus argumentos são de um jornalista, um sujeito ciente que a comunicação é uma indústria incapaz de transformar o mundo.

Sou um eleitor de esquerda que optou por Lula em 2002 e repetirá o voto em 2006, apesar de tecer inúmeras cr?ticas ao conservadorismo do seu governo.

E só não revelo meu voto completo porque ainda tenho dúvidas em alguns cargos em disputa. *Inácio França é jornalista profissional, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, em dezembro de 1990.

Repórter de Pol?cia do Diário Popular (SP), atual Diário de São Paulo.

Repórter de O Globo, sucursal de São Paulo.

Repórter de O Globo, sucursal de Recife.

Repórter-especial do Diário de Pernambuco.

Secretário de Comunicação de Olinda, durante a primeira gestão de Luciana Santos (PCdoB).

Atualmente, Consultor de Comunicação do UNICEF para os estados de Alagoas, Para?ba e Pernambuco.

Como repórter, conquistou o Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo e Dieitos Humanos, Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo.