Por André Regis*Cientista pol?tico A disputa pelo governo de Pernambuco já está a pleno vapor.
Tenho observado que até agora, os principais candidatos apresentam discursos semelhantes.
Por isso, muito provavelmente, seus programas deverão ser relativamente iguais.
Certamente, eles serão recheados com muitas promessas, e marcados pelo pouco compromisso com a realidade.
Na verdade, isso ocorre devido ao fato de que tanto a população quanto os candidatos prestarem muito pouca atenção às plataformas de governo.
Em geral, ninguém acredita nos programas.
Neste contexto, o guia eleitoral fica marcado por ataques pessoais e por propostas fantasiosas, nele não há o devido espaço para projetos bem elaborados, tudo fica na generalidade.
O que é péssimo para a democracia, na medida em que desperdiçamos um extraordinário instrumento para diagnosticar problemas e apontar soluções.
Uma evidência do baixo n?vel das discussões tem sido a ausência de intelligentsia nas campanhas, o envolvimento de especialistas tem sido, praticamente, inexistente.
Outro grave problema que identifico para a melhoria da qualidade do debate é o desconhecimento pela imensa maioria da população quanto ao verdadeiro poder dos governadores.
Enquanto a percepção geral é de que os governadores são fortes, na prática eles são fracos.
E os próprios candidatos contribuem para isso, quando falam como se não existissem limites financeiros impostos à realização de sua plataforma de governo.
Falam em melhorar tudo, mas não dizem de onde virão os recursos.
O fato é que as restrições aos governadores por falta de recursos financeiros, materiais e humanos são enormes.
Provavelmente, nunca na nossa história os governadores estiveram tão empobrecidos, tanto em termos de poder econômico, quanto pol?tico.
Definitivamente, hoje, os governadores não desfrutam dos mesmos instrumentos de poder que estiveram ao dispor de seus antecessores.
Em decorrência, eles desapareceram da cena pol?tica nacional.
A maior evidência desse fato foi a omissão dos governadores durante o escândalo do mensalão.
Considerando que dos 27 governadores apenas dois são do PT, seria de se esperar que, durante o auge das denúncias de corrupção em seu governo, Lula sofresse fortes ataques dos governadores.
Isso não aconteceu.
Com medo de sofrer retaliações do presidente, os governadores, mesmo os dos partidos de oposição, ficaram em silêncio.
Vale lembrar que, durante a crise de 1992, os governadores, em bloco, fizeram oposição implacável a Collor.
Fato que contribuiu significativamente para o seu impeachment.
Nesta época, os governadores tinham tanto poder que ousavam até desafiar o presidente.
Até recentemente, os governadores tinham grande capacidade de influenciar as carreiras dos deputados federais e estaduais.
Eles tinham forte presença e influência no Congresso Nacional.
Hoje a realidade é outra.
Os governadores não possuem mais bancos ou empresas estatais, não podem lançar t?tulos no mercado financeiro, não podem aumentar a d?vida de seus estados, e ainda devem respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Assim, os governadores perderam milhares de empregos que tinham a sua disposição, e também a capacidade de levantar recursos financeiros de modo, praticamente, irresponsável e ilimitado.
Como negar que o poder do governador de Pernambuco era bem maior quando ele tinha o Bandepe para levantar recursos para obras públicas, para fomentar indústrias, para emprestar dinheiro a aliados (na maioria das vezes sem a devida garantia)?
E também para gerar empregos para seus apadrinhados, mesmo que isso implicasse em preju?zo ao contribuinte, com a abertura de agências bancárias deficitárias em munic?pios do interior?
Jarbas Vasconcelos foi o primeiro a governar nesse novo contexto.
Sua sorte foi a privatização da Celpe que gerou a receita necessária (mais de R$ 1 bilhão) para que seu governo ficasse marcado pela realização de grandes obras, como a duplicação da BR 232.
Por tudo isso, é preciso redimensionar o poder real dos governadores para que os eleitores possam distinguir as propostas exeqü?veis das fantasiosas.
Em nome da tradição pol?tica de Pernambuco, e, principalmente, do legado de Joaquim Nabuco, é fundamental um debate substantivo em torno das plataformas de governo.
Assim, por um lado, os candidatos devem se cercar de quadros qualificados para a elaboração de verdadeiros programas.
E, por outro, os eleitores devem se qualificar melhor para exigir plataformas comprometidas, ao mesmo tempo, com o futuro e com a realidade.
Confesso que isso não deve acontecer, uma vez que na ignorância e na ficção, todos os candidatos tendem a ser excelentes. *André Regis é Ph.D. em Ciência Pol?tica pela New School For Social Research – Nova York, EUA.
Doutor em Direito pela UFPE