Por Túlio Velho Barreto*Cientista pol?tico e pesquisador da Fundaj Esta semana marca o in?cio do horário eleitoral gratuito nas emissoras de rádio e TV, mais conhecido como guia eleitoral.
Serão quarenta e cinco dias de programas eleitorais até o dia 28 de setembro.
No rádio os horários serão das 7h às 7h50 e das 12h às 12h50.
E na TV das 13h às 13h50 e das 20h30 às 21h20.
Em ambos os ve?culos, serão alternados os dias para os candidatos proporcionais (a deputados estaduais e federais) com os majoritários (a presidente e a governador, e a senador).
O guia eleitoral é o momento mais aguardado por todos os envolvidos nas disputas: os candidatos e seus estafes, os eleitores, toda a m?dia.
Mas igualmente também por analistas e cientistas pol?ticos.
Este ano o guia terá uma importância ainda maior, em especial porque o Congresso Nacional e a Justiça Eleitoral estabeleceram novas regras para a campanha de rua, com medidas que pretendem barrar o abuso do poder econômico.
E isso vale para as eleições proporcionais e majoritárias em todo o pa?s.
Entretanto, em Pernambuco, a disputa majoritária, sobretudo a de governador, tem particularidades que tornam o guia eleitoral ainda mais relevante. É disso que trata esta minha primeira participação, aqui, no Blog do JC.
Com efeito, desde o fim do regime militar (1964-1985), esta será a primeira eleição em que todos os principais candidatos ao Governo de Pernambuco jamais foram eleitos para um cargo majoritário, sequer para prefeito do Recife.
E ocupar a Prefeitura do Recife, por sua importância pol?tica e eleitoral, contribuiu decisivamente, por exemplo, para que Miguel Arraes fosse eleito governador dos pernambucanos em 1986 e 1994; Joaquim Francisco, em 1990; e Jarbas Vasconcelos, em 1998 e 2002.
E eles foram os únicos desde 1986.
Bem, Mendonça Filho (PFL, União por Pernambuco) é governador, mas apenas porque herdou o cargo de Jarbas Vasconcelos (PMDB), que deixou o cargo para ser candidato ao Senado, pois foi seu vice durante mais de sete anos.
Humberto Costa (PT, Melhor para Pernambuco) já disputou outras eleições majoritárias (prefeito do Recife e governador), mas nunca se elegeu.
Já Eduardo Campos (PSB, Frente Popular de Pernambuco) disputou apenas uma vez uma eleição majoritária (prefeito do Recife) sem sucesso.
Em 2006, portanto, temos uma disputa entre candidatos relativamente desconhecidos do eleitorado do Estado, particularmente dos que vivem além da Região Metropolitana do Recife.
Trata-se de uma eleição sem nomes de peso, sem a participação direta de grandes lideranças pol?ticas ou caciques.
E todos os três principais candidatos ao Governo do Estado (Mendonça Filho, Humberto e Eduardo) são pol?ticos que iniciaram suas carreiras a partir da redemocratização do pa?s, isto é, após 1985.
Assim sendo, a eleição de 2006, em Pernambuco, terá dois grandes eleitores ou cabos eleitorais, ou seja, nomes que podem - e devem - fazer a diferença para os seus candidatos, e de forma decisiva.
Por um lado, o ex-governador Jarbas Vasconcelos, que apóia a candidatura de seu ex-vice, e atual governador, Mendonça Filho.
Por outro lado, o presidente Lula, que possui dois palanques no Estado, o da Frente Popular, capitaneado pelo PSB, e o da coligação Melhor para Pernambuco, que tem à frente o PT, o partido do presidente, ambos apoiados pelo presidente-candidato.
Até agora - ou seja, antes do in?cio do guia eleitoral, é muito importante frisar isso - as pesquisas mostram uma relevante vantagem para o atual governador Mendonça Filho, seguido, à distância, por Humberto Costa e Eduardo Campos, ex-ministros do Governo Lula, que estão praticamente empatados em segundo.
Mas a intenção de voto medida pelos institutos de pesquisas até o momento permite observar, com clareza, que, se a eleição fosse hoje, certamente ter?amos um segundo turno.
Só não podemos dizer quem seria o candidato da oposição na disputa.
Portanto, diante do que já foi dito, talvez possamos explicar a vantagem de Mendonça Filho a partir (1) do fato de ele ser o atual governador, o que lhe dá (deu) bastante visibilidade desde março, quando assumiu o cargo; (2) do apoio e da identificação que recebe e tem do ex-governador Jarbas Vasconcelos, já identificado aqui como um dos dois mais importantes eleitores/cabos eleitorais deste ano; (3) dadivisão da oposição, que propicia dois palanques ao presidente Lula, o outro eleitor/cabo eleitoral relevante, sem que isso signifique sequer um impulso para que um dos dois palanques (Humberto e Eduardo) se beneficie de sua enorme popularidade; e, finalmente, (4) da tendência ou inclinação que o eleitor pernambucano está demonstrando, até aqui pelo menos, pela continuidade, o que parece favorecer Lula, Mendonça Filho e Jarbas, segundo as diversas pesquisas divulgadas. É este quadro da disputa majoritária estadual às vésperas do in?cio do guia eleitoral no rádio e na TV.
Com base em eleições majoritárias passadas, podemos afirmar que, de modo geral, o guia eleitoral tende a cristalizar o quadro existente no momento imediatamente anterior ao seu in?cio.
Mas, apesar disso, sabemos, as eleições são fenômenos pol?ticos absolutamente suscet?veis aos diversos acontecimentos que os cercam, aos acertos e erros dos candidatos e de seus marqueteiros, do humor do eleitorado…Além disso, como já disse, esta é uma eleição at?pica.
Então, como Mendonça Filho é o candidato a ser batido, porque é governador e partiu na frente nas pesquisas, a tendência é que a União por Pernambuco inicie sua propaganda de forma mais propositiva, associando o nome do governador-candidato ao de seu antecessor e “padrinho???, Jarbas Vasconcelos.
E procure deixar clara a vinculação de seus dois principais oponentes (Humberto e Eduardo) ao Governo Lula,do qual foram ministros, sobretudo porque, certamente, o Governo Lula sofrerá duros e constantes ataques do PFL e PSDB nacionais, estratégia já definida e em curso para encurtar a significativa distância que separa o candidato daquela aliança, Geraldo Alckmin, do presidente-candidato.
Já os programas eleitorais da oposição tentarão mostrar à maioria do eleitorado pernambucano, que tem a intenção de reeleger o presidente Lula, e de forma ampla, que ele tem candidato no Estado.
Mas a? reside um enorme, e talvez intranspon?vel, desafio: quem tem dois candidatos a um único cargo, parece não ter nenhum. *Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, 48, é um dos autores dos livros Democracia e Instituições Pol?ticas Brasileiras no final do Século XX (MCP-UFPE/Bagaço, 1998) e Nordeste 2004 - O Voto das Capitais (Fundação Konrad Adenauer, 2005).
Organizou e participou dos livros Na Trilha do Golpe - 1964 revisitado (Editora Massangana, 2004) e A Nova República - Visões da Redemocratização (Cepe/JC, 2006), que resultaram de séries especiais publicadas pelo Jornal do Commercio em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.