Por Luiz Otavio Cavalcanti*Ex-secretário do Planejamento e da Fazenda de Pernambucolotavio@fsm.com.br Olá, amigos.

Passo a colaborar, às terças, neste Blog do JC, a convite de César Rocha.

Vou tratar preferencialmente do Brasil.

E do estilo pol?tico dos homens que fazem do Pa?s a República tal como ela é.

Continuidade e não ruptura.

Improvisação e não planejamento.

Paternalismo pol?tico.

Contemporização.

Essas são caracter?sticas que compõem o processo pol?tico brasileiro.

E o estilo de governar dos homens.

São acentuações culturais que se desdobram no tempo.

Num momento prevalece o avanço.

Noutro predomina o recuo.

Aqui, a definição.

Ali, a espera.

No final, ambigüidade e não clareza.

Mais conciliação e menos reforma.

Vargas foi ditador de 1930 a 1945.

Presidente da República eleito em 1952.

Suicidando-se em Agosto de 1954.

Dezessete anos de poder.

Foi um oligarca que afrontou oligarquias.

Entre 1937 e 1945, per?odo ditatorial do Estado Novo, patrocinou pol?tica de modernização autoritária e paternalista.

Ampliou a legislação trabalhista e previdenciária.

Obrigou profissionais a se sindicalizarem.

Inaugurou a era dos pelegos.

Paternalista, criou as agências modernas de que o Pa?s precisava.

Entre 1930 e 1940, a economia nacional cresceu à taxa média de 5% ao ano.

Conciliador, foi governador do Rio Grande do Sul, ministro da Fazenda e ditador.

Usou a ambigüidade como recurso pol?tico.

Dizia coisas diferentes a pessoas diversas de modo que ninguém sabia exatamente o que ele iria fazer.

Censurou a imprensa, mas contou, entre seus auxiliares, com o poeta Carlos Drummond de Andrade, Mario de Andrade, Oscar Niemeyer, Heitor Villalobos e o pintor Cândido Portinari.

Levou cinco anos, de 1937 a 1942, para decidir, na Segunda Guerra Mundial, se conduzia o pa?s para o lado dos Aliados ou o lado do Eixo.

Os vários Getúlios em Vargas Paternalista, amb?guo, contemporizador, é o mesmo Getúlio ditador, implacável.

Sua obra mais fina, em minha opinião, não foi o edif?cio institucional que ele construiu na administração pública brasileira.

Foi a arquitetura pol?tica da qual nasceu o PTB.

O Brasil vivia a redemocratização em 1945.

A reestruturação partidária refletia a base econômica e social do Pa?s.

Foram organizados o Partido Social Democrático – PSD, de base rural, que reunia as lideranças da oligarquia do interior, verdadeira escola pol?tica que produziu Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Agamenon Magalhães.

De outro lado, foi também estruturada a União Democrática Nacional – UDN, de base urbana, vocação liberal, adotando o discurso oposicionista como instância de ação pol?tica, outra escola pol?tica que reuniu Bilac Pinto, Aliomar Baleeiro, Afonso Arinos e Carlos Lacerda.

O Brasil rural estava no PSD.

O Brasil urbano da classe média estava na UDN.

Faltava fundar um partido que representasse os interesses da massa operária nascente que começava a engrossar as levas de empregados contratados pelas fábricas, no alvorecer do segundo ciclo de industrialização, nos anos 50.

Foi o que Getúlio percebeu.

E criou o Partido Trabalhista Brasileiro – PTB.

Na verdade, ao criar o PTB, Getúlio assumiu o discurso social-democrata europeu e adiou o movimento de esquerda de base operária que surgiria, em 1970, com o PT, trinta anos depois.

O projeto pol?tico do PTB não honrou a perspicácia pol?tica de seu fundador por causa do peleguismo que impregnou sua alma.

O PTB colou nas agências do Estado brasileiro, tornou-se patrimonialista na ação de caciques, apequenando-se.

O gênio pol?tico de Vargas não encontrou eco no Partido.

E a complexidade dos vários Getúlios terminou certificando o estilo brasileiro de governar.

Mostra também que pol?tica e cultura são faces de mesma moeda.

A mistura de raças fundidas no trópico produz s?ntese de administrador que se bifurca em ambivalências.

Getúlio só não foi brasileiro no episódio final de sua trajetória quando atirou contra o próprio peito.

Cenário trágico demais para um Povo alegre que chorou nas ruas a perda do Pai dos Pobres.

Próxima semana tem Juscelino, o Presidente Que Sabia Rir. *Luiz Otavio Cavalcanti, 60, advogado, executivo e ex-secretário do Planejamento (1975/79 e 1991/92) e da Fazenda (1983/86 e 1992/93) de Pernambuco.

Recifense, Cavalcanti dirige hoje a entidade mantenedora da Faculdade Santa Maria. É autor, entre outros livros, de Como a corrupção abalou o governo Lula (Ed.

Ediouro, 2005), Administradores, quem somos nós? (Ed.

Bagaço, 2005) e Ensaiando Pernambuco (Ed.

Bagaço, 2005).