Por Ugo BragaDo Correio Braziliense Depois de relutar por mais de um mês, o relator da CPI dos Sanguessugas, senador Amir Lando (PMDB-RO), decidiu estender a investigação ao Poder Executivo.

Ele anunciou ontem a criação de uma sub-relatoria espec?fica para apurar as conexões da quadrilha nos ministérios da Saúde, da Educação, das Comunicações e da Ciência e Tecnologia.

O trabalho será entregue a uma junta de três integrantes, sendo um da oposição, um do governo e um do PMDB — os nomes aventados são os do deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), do senador Flávio Arns (PT-PR) e do deputado Gastão Vieira (PMDB-MA).

Tal como foi colocada, a decisão de Lando deflagrou de imediato uma guerra.

O l?der do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), ao tomar conhecimento dela, chamou a CPI de “palco midiático??? e acusou os membros de não produzirem provas do esquema, apenas de tirarem proveito dos holofotes.

Em resposta, o vice-presidente da comissão, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), lembrou que Fontana chamara a idéia de criação da CPI de “factóide??? e apostara que não sairia do papel. “Não acredito que o l?der do PT seja exatamente a melhor pessoa para dar palpite???, refutou.

De Pernambuco, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, também candidato ao governo do estado, avisou estar “totalmente à disposição??? para depor “em qualquer instância???.

Mas deu um sinal eloqüente de qual será a posição dos aliados do governo Lula: “Está bem claro que tudo começou no governo Fernando Henrique, então vamos chamar também o José Serra, o Barjas Negri…???

Leia aqui reportagem completa (assinantes do Correio).

TRECHOS DO DEPOIMENTO Trecho do depoimento secreto do empresário Darci Vedoin à CPI dos Sanguessugas, feito em Cuiabá, no último dia 13.

Nele, o mentor do esquema de fraude na compra de ambulâncias pelas prefeituras conta a versão sobre o pagamento de propina e tráfico de influência dentro do Ministério da SaúdeDarci Vedoin (respondendo ao relator da CPI, senador Amir Lando) — Em 2002, quando eu entreguei os carros, na época das eleições, ficaram todos para serem pagos.

Existia um decreto do governo no sentido de não pagar emendas de ninguém.

E eu tinha 115 carros entregues.

Helo?sa Helena — O senhor liberou as ambulâncias, mas o dinheiro não saiu… Darci — Eu tinha… vamos arredondar: 120 carros. (…) Teve o encontro dos prefeitos em Bras?lia.

Lá, no Parque (da Cidade).

Lando — Uma exposição?

Darci — Uma exposição para as prefeituras.

Mas antes disso eu estive no Ministério da Saúde, com o dr.

Benedito (Domingos), que era vice-governador… ele foi vice-governador…

Lando — Do DF?Darci — Do DF.

Fui com ele ao ministro da Saúde… Lando — Quem era o ministro?

Darci — Humberto Costa.

Expliquei para ele que havia entregado os carros.

Ele falou o seguinte: não vou pagar.

Vem de outro governo e eu não vou pagar.

Digo: ‘ministro, eu já entreguei os carros e tenho mais 10 ou 15 carros para entregar’. (…) Ele chamou o chefe de gabinete e disse: ‘Tome nota a?, dê uma olhada se tem alguma coisa que dá para fazer nisso a?.

Mas, a princ?pio, nós não vamos pagar nada, porque nós não sabemos o que foi do outro governo’. (…) Saindo de lá, eu liguei para o meu filho (Luiz Antônio) e disse assim: ‘Filho, pode entregar os carros, porque eles vão pagar’. (…) ‘Ah é?

Vamos entregar!’.

Só que, depois eu cheguei lá em Cuiabá e falei: ‘Os caras não vão pagar nada’. ‘Pai, pelo amor de Deus!

Como é que vamos fazer?’ (…) Nessa exposição, chegou uma pessoa chamada Diniz e disse o seguinte… Lando — Ele era o quê?

Darci — Ele é do Ceará.

Não sei o que ele era.

Lando — Não sabe onde ele trabalhava?

Darci — Não, não era de ministério nenhum.

Ele chegou e disse: ‘Olha, eu tenho como resolver o problema de vocês.

Mas, antes disso, eu preciso ir a Cuiabá conhecer a empresa de vocês’.

Eu dei duas passagens para eles, de avião, e viemos pra cá.

Eu vim antes, ele e Lacerda — o nome da outra pessoa — vieram para Cuiabá. (…) Nós fomos buscá-los no aeroporto.

No meio da conversa, ele pegou o telefone e disse: ‘Ó, aqui vai dar certo’.

Antes disso, ele me cobrou que queria 8%.

Eu: ‘Ô, não dá, eu já entreguei esses carros’.

Fechamos em 5%. (…) Lando — 5% a posteriori do recebimento?

Darci — (…) Não, antes de eu receber da prefeitura.

A? nós entramos na factoring de novo.

E uma factoring, acho que todo mundo sabe o que eles cobram, porque eu até hoje estou endividado.

Lando — Mas o ministério pagou, enfim?

Darci — Vamos com calma, senador (…) Aonde eu estava, senador?

Ah, tá, nos 5%.

Dei a lista, pagou… Lando — O senhor falou que foi à factoring.

Darci — Fui à factoring, peguei "X" de recurso, pagamos lá, a prefeitura recebeu e começaram a me pagar. (…) Lando — Daqueles cento e… Darci — Daqueles, de 2002 ainda.

Tanto é que tenho uma d?vida com a Iveco. (…) Fernando Gabeira — Quando o Diniz e o Lacerda vêm aqui, convidados pelo senhor, e falam…eu queria que o senhor me explicasse como foi esse processo.

Darci — Ele liga para uma pessoa e diz o seguinte: ‘Ó, aqui vai dar tudo certo.

Não tem problema nenhum.

Está acertado’.

A pessoa foi candidato, depois fiquei sabendo, a governador do Ceará.

Lando — Quem era?

Darci — Ele foi candidato em 2002, perdeu por dois mil e poucos votos. É do PT. (…) Ele é do Ceará. É o José Airton.

Lando — Não me fale em cueca.

Darci — Ele tinha muita influência com o ministro Humberto Costa.

E a? começaram a sair as nossas coisas.

Mas a? eu já tinha pago o parlamentar — alguns, outros eu tinha que pagar — e tinha que pagar mais 5% (…).

Raul Jungmann — Qual o papel do José Airton nessa questão?

Darci — A amizade dele com o ministro Humberto Costa.

Sibá Machado — E quem lhe apresentou ao Diniz?

Darci — Não, ele chegou… Sibá — Na exposição (no Parque da Cidade), ele chegou lá e se aproximou… Darci — Na exposição… não… a?… eu não vou falar… é melhor não falar, não… suposições… não vou falar em suposição… mas ele veio já sabendo que nós estávamos, que nós t?nhamos coisas lá de dentro.

A conversa que eu tive foram com poucas pessoas.

Mas ele já veio sabendo que nós t?nhamos a receber do Ministério da Saúde um "X".