O nome dele é Antônio Passos Ferreira, 39 anos, candidato a vice-governador na chapa do Partido da Reedificação da Ordem Nacional (Prona), comandada por Clóvis Corrêa, ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho.
Toninho, como é mais conhecido, tornou-se um fenômeno no interior de Pernambuco.
Nos últimos dois anos, depois que perdeu a eleição para vereador de Petrolina, assumiu o comando de um conglomerado de sindicatos.
São 46 e mais 50 entidades associadas.
Todos com o objetivo de ajudar quem queira se aposentar.
Ajudar, inclusive, na obtenção daquilo que se tornou uma febre no pa?s: o empréstimo consignado (com desconto em folha).
O Blog descobriu que nos sindicatos de Toninho há sempre alguém oferecendo dinheiro emprestado.
A pessoa se aposenta e já sai com parte da renda comprometida.
Em Petrolina, o dinheiro oferecido é do BMC, instituição que, segundo seu superintendente, Fernando Perreli, movimenta R$ 1,2 milhão por mês com cerca de 800 contratos naquela região.
O sindicato principal de Toninho, instalado na Casa Rural, centro do munic?pio, é claro em suas finalidades até no nome: chama-se Sindicato dos Trabalhadores APOSENT??VEIS, Aposentados e Pensionistas do Norte e Nordeste (Sintaap). É isso mesmo, tem como público prioritário os aposentáveis.
Do Sintaap vai surgir, em breve, uma federação.
E poderosa.
Em Petrolina, são 3,6 mil filiados.
No restante da rede, há outros 27 mil associados.
Toninho, apesar de ser comerciante há 20 anos, não declarou um único bem ao Tribunal Regional Eleitoral.
Em entrevista por telefone, ele diz que trabalha com lanchonete e mercadinho.
Mas os negócios estão sendo tocados pelos irmãos.
Desde 2004, dedica-se exclusivamente aos sindicatos. É um trabalho intenso.
Coordena um batalhão de 11 advogados.
A cada 15 dias visita ou manda os advogados às instituições que dirige.
Veja abaixo como tudo isso funciona em duas entrevistas.
Ambas realizadas por telefone, de Petrolina.
A primeira é com o próprio Toninho, que nega qualquer relação com os empréstimos consignados.
A segunda é com Vânia, funcionária dele, cuja desenvoltura ao falar dos empréstimos impressiona. ——————————— Entrevista/Toninho "Os velhos já são de maior e já sabe o que faz" Toninho garante não utilizar os sindicatos que dirige no Estado para oferecer empréstimos aos aposentados.
E ficou impaciente ao comentar o assunto.
O sr. atua em que base?
Eu sou comerciante dentro de Petrolina.
Sou presidente do sindicato dos aposentados do Norte e Nordeste.
Eu atuo dentro do Estado de Pernambuco, onde eu coordeno 46 sindicatos, sob a direção minha, sou o presidente regional.
São todos ligados ao sindicato dos aposentados?
Exatamente.
Todos são ligados ao sindicato dos aposentados e agricultura familiar.
São ligados a esse de Petrolina?
Exato.
Tem as associações que são ligadas a nós.
Ao todo, dá uma média de 96, entre associações ligadas à gente.
O sindicato de Petrolina funciona como uma federação?
Não.
Ainda não.
Nós estamos fazendo a federação agora.
O Sintaap só tem dois anos de aberto.
Nós estamos montando a federação, a gente vai coordenar agora o Estado de Pernambuco geral, onde a gente vai ser o presidente estadual do sindicato dos aposentados e eu coordeno 46 dentro do Estado de Pernambuco e 96 associações que são ligadas à gente, terceirizadas à gente.
Noventa e seis, incluindo os 46?
Exatamente, incluindo os 46.
Esse de Petrolina tem quantos filiados?
Dentro de Petrolina nós temos 3.600.
Agora, dentro do Estado, 30 mil.
Mas todos são de aposentados?
Não, alguns são pensionistas, outros, pessoas prestes a se aposentar. (Após uma pausa, faz uma ressalva) A? você bota a?: Antônio Passos Ferreira, a? bota Toninho, entre parêntesis, não esqueça de botar isso, não, viu?
Porque o povo me conhece mais aqui como Toninho.
As entidades reúnem, então, 30 mil pessoas.
Mas todas elas estão aposentadas ou estão próximas de se aposentar?
Os dois.
A maioria é aposentada.
Setenta por cento é aposentado e 30% são pessoas que já chegam à idade prestes a se aposentar e a gente vai orientando, fazendo as documentações, a maioria são rurais, inclusive porque o nosso grupo é rural.
Você me falou que era comerciante.
Em que ramo?
Na área de lanchonete e supermercado.
Há muito tempo?
Já tem mais de 20 anos nessa área.
A? agora eu estou cuidando mais da área sindical, onde a gente se entrelaçou nessa área sindical e a gente está viabilizando essa parte sindical.
Então faz dois anos que você está nessa área?
Exatamente, faz dois anos.
Quando eu sai da campanha para vereador eu sai para isso a?.
Quando perdeu?
Exatamente.
Eu já trabalhava com essa parte de aposentadoria e viabilizamos isso.
Nesses dois anos de atividade sindical vocês conseguiram esses 3.600 filiados em Petrolina?
Exato.
Já são todos aposentados.
Na atividade do sindicato, vocês viabilizam todo o processo de aposentadoria? É, a gente orienta todo esse processo da pessoa, o que ela precisa, o que não precisa, se ela tem direito, se ela não tem direito.
A gente sempre dá essa orientação por quê?
Por que a Previdência ela é muito cheia.
Só para os funcionários, alguns são novatos, estagiários, não têm o conhecimento que nós temos, né?
A gente trabalha hoje com 11 advogados dentro do Estado de Pernambuco.
Temos os sindicatos em várias cidades.
Aqui dentro de Pernambuco.
Na Bahia, nós estamos começando.
No Piau?.
Dentro do Nordeste nós temos uma atuação.
Você vai nesses lugares de quanto em quanto tempo?
Em média de 15 em 15 dias.
São aqui perto da cidade (de Petrolina).
São cidades vizinhas.
Petrolina faz divisa com Bahia e Pernambuco, e Piau?.
Quando a gente não vai, vai os nossos advogados.
Vocês também oferecem empréstimo consignado?
A gente não viabiliza isso.
A gente é contra isso porque nós combatemos esses juros altos dos bancos.
A gente mesmo, o Sintaap, fez um processo lá no Senado e na Câmara Federal para que se baixasse aquela taxa para de acordo com a Caixa Econômica.
Dentro do sindicato tem um funcionário que oferece o crédito consignado.
Isso faz parte desse trabalho de assistência social?
Dentro do sindicato a gente não tem isso.
Ao contrário, a gente indica a Caixa Econômica porque é o juro mais baixo.Dentro do sindicato…e a gente não atua…e nós não autorizamos e muito menos aceitamos esse tipo de coisa dentro da nossa entidade.
Porque há várias tentações e várias pessoas que chegam pra gente solicitando isso ou nos oferecendo alguma coisa para que a gente induzisse o aposentado a fazer o empréstimo.
A gente, ao contrário disso, entendeu?
O que é que a gente encaminha? "Olha, procure a Caixa Econômica, o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste, que têm as melhores taxas para os aposentados.
O maior parceiro dos aposentados hoje, para nós, é a Caixa Econômica Federal.
Por quê?
Porque ela tem um juro de 1,95(%), 1,75 (%), de acordo com o que a pessoa quer pegar – 1,25 (%), entendeu.
Então nós corremos atrás de dar a melhor satisfação para o aposentado.
Mas e o BMC?
Ele não tem um funcionário dentro do sindicato pronto para viabilizar os empréstimos consiganados?
Em qual lugar?
A? em Petrolina, na Casa Rural (onde funciona o sindicato).
Não, ele, não.
Ele alugou um ponto…
Ao redor daqui não falta BMC, aqui não falta BMG, aqui não falta o que diabo for.
Gente ao redor.
Em qualquer sindicato nosso, ou seja, ou rurais ou urbanos ou CUT ou qualquer lugar sempre tem gente atrás.
Porque, você vai vender mercadoria lá no deserto, aonde não tem ninguém?
Vende jornal lá no meio do mato, no Amazonas?
Onde é que se vende coisa?
Onde se passa gente.
Você vai procurar not?cia onde não tem?
Ou vai procurar onde tem fato, onde mataram fulano, onde roubaram fulano?
A? você gosta dessa not?cia.
Onde o ladrão assaltou.
Você não bota aquilo que você não vê.
Então os bancos sempre nos rodeiam.
O BMC, o BMG, o BMW, a Ferrari, todo mundo quer dinheiro.
Mas como o sindicato funciona?
Ele recebe comissão por esses empréstimos, por esses projetos?
Não.
Você está equivocado nessa sua pergunta.
Primeiro, que eu não faço empréstimo.
Segundo que a gente não faz.
Terceiro, se a gente indica, a gente indica a Caixa Econômica.
Você está bom de fazer um exame de ouvido.
Você não ouviu direito ainda, não.
Otorrino é bom que você limpa seus ouvidos.
A gente indica a Caixa Econômica.
Por que a gente indica a Caixa?
Porque é a melhor opção para o aposentado.
Mas se você procurar: "Mas você recebe alguma coisa da Caixa?" Eu digo que não.
Por que BMC e BMG, se o aposentado está passando aqui na rua, eu não vou passar a pistola em ninguém porque está aqui ao redor, pedindo os velhos para fazer empréstimo.
Acho que os velhos já são de maior e já sabe o que faz.
Se o cara está lá na frente…Você vai me pagar comissão do seu salário para me entrevistar?
Então, bem assim é quem faz empréstimo aqui na minha frente.
Mas vocês mesmos não fazem?
Não, a gente não tem esse negócio, não.
Se você procurar se tem gente ao redor da gente, tem.
Aqui mesmo tenho quatro na minha frente.
Só basta abrir minha janela e chamar uns dez, se você quiser.
Se você for lá no sindicato rural, tem.
Se for no Banco do Brasil, tem.
No Banco do Nordeste, tem.
Na Caixa Econômica tem uns 100 lá de frente, em Petrolina.
Mas eu liguei esses dias no sindicato e a moça me disse que tem um rapaz que fazia?
Tem, aqui em redor, tem de frente, direto.
Se você pedir, eu lhe entrego mil.
Mas cabe a cada um decidir o que quer fazer ou se vai fazer, entendeu?
Eu vou empatar?
Por exemplo, se um cabra em frente do Jornal do Commercio está vendendo o jornal, uma banca de frente a?, o cara vendendo o jornal Diario de Pernambuco, então, você vai matar ele?
Você vai empatar ele de vender, de andar na rua? ——————————— Entrevista/Vânia (funcionária de Toninho) "Que bênção se nós vendesse empréstimo todo dia!" As declarações de Toninho divergem das de Vânia, a modesta funcionária do Sintaap, o mais importante dos sindicatos dirigidos por ele.
Vânia fala com tranqüilidade e desenvoltura da oferta de empréstimos consignados dentro do sindicato.
Ao responder sobre se consegue fechar contratos todos os dias, lançou uma expressão de grande surpresa: "Não!!!
Oxe!!!!
Todo dia, não!!!
A gente não faz empréstimo todo dia!!!
Ah, se fosse…ah, que bênção se nós vendesse empréstimo todo dia!!!!
Seria bom!".
A gente consegue financiamento, se tiver a aposentadoria?
Sim.
E como é que funciona?
A gente tem um empréstimo consignado, pelo INSS, não somos nós que fazemos esse empréstimo. É um rapaz que trabalha para aqui, para o seguro.
Ele faz esses empréstimos.
Trabalha para o seguro, mas é do sindicato?
Não…Não é exatamente do sindicato…
Mas é pessoa de confiança? É a mesma coisa de ser do sindicato. É a mesma coisa o quê? É a mesma coisa de ser daqui, tá entendendo?
Esse funcionário, ele trabalha com empréstimo, ele trabalha aqui, tá entendendo?
Só que é particular esse empréstimo dele.
E é gente conhecida? É conhecid?ssima. É uma pessoa de confiança…Se você não confiar nele, então eu faço seu empréstimo.
Nós daqui do sindicato fazemos também.
Mas é uma pessoa de confiança de Toninho?
Exatamente.
A gente pode ficar tranqüilo, então?
Tá, pode ficar.
Mas ele é funcionário de Toninho?
Não, a gente temos esse escritório, a? ele trabalha numa parte do escritório, tá entendendo?
Toninho cedeu um parte para ele, para ele ficar na parte do escritório daqui, para não ficar fechado.
A? ele tá trabalhando com esses empréstimos lá, aqui do lado.
E como é que funciona o empréstimo, depois que a pessoa consegue a aposentadoria?
Olhe, eu tenho uma tabela aqui que é de…Deixa eu olhar para ver se eu acho…Aqui tem uma tabela de preços.
Aqui tem…Sendo aposentada com salário m?nimo, tem direito a 240 reais dividido em 35 vezes.
Trinta e cinco vezes de quanto?
De 136.
Não entendi.
Então, ela pega 240 reais…
Não, ela pega 1 mil ou 2,4 mil.
E a? divide em 35 de 136 reais?
Então, ela pega 2,4 mil, dividido em 36 vezes…
Ah, então são 36 vezes…
Não, eu disse um plano de 35 e agora tô dizendo um plano de 36 de 128 reais e 21 centavos.
E isso sai na hora?
Não, esse empréstimo tem que entrar no sistema, que é pelo INSS.
O INSS só dá autorização para fazer esse empréstimo de 30% do benef?cio (só é poss?vel comprometer 30% do que se recebe mensalmente com o empréstimo).
Ele só libera 30% porque o resto é pra cuidar da alimentação, essas coisas.
Qual é o banco que faz?
BMC.
E tem esse banco em Petrolina?
Tem.
Porque esse banco…ele é assim…Faz o empréstimo nele e as pessoas recebem esse empréstimo no Banco Itaú, tá entendendo?
Ele deposita o dinheiro no Banco Itaú.
A? o aposentado que tirou o empréstimo vai e pega lá.
E o empréstimo é pago como?
Vem descontado em folha.
E é tranqüilo isso? É tranqüil?ssimo.
Eu mesma faço um monte de empréstimo.
Tem muita gente que faz?
Bastante.
Tem poucas pessoas que faltam fazer.
As pessoas que não fizeram é porque não querem mesmo.
Mas aqui em Petrolina nós já fizemos da maioria.
Maioria?
Quantos mais ou menos?
Muita!
Quantas pessoas têm no sindicato?
Não tenho, assim, uma base.
Mas que fez empréstimo, quase todo mundo?
Pelo menos dos nossos sócios e outras pessoas que querem fazer empréstimo, que chegam pedindo empréstimo, a gente sempre faz.
Quantos pessoas mais ou menos fazem o empréstimo por dia?
Bastante.
Eu nunca conto assim…
Mas 10, 15, 20, 100?
Que já fizeram?
Que fazem todo dia?
Não!!!
Oxe!!!!
Todo dia, não!!!
A gente não faz empréstimo todo dia!!!
Ah, se fosse…ah, que bênção se nós vendesse empréstimo todo dia!!!!
Seria bom!
A gente fizemos muitos.
Só que agora caiu em todos os lugares.
Onde você imaginar caiu o empréstimo.
Caiu assim…porque todo mundo já fez.
E quem fez ainda está pagando.
A? o INSS não libera.
Tá entendendo?
E Toninho autoriza os empréstimos?
Olhe, Toninho ele é daqui dessa parte geral do Sintaap, porque ele é o presidente do sindicato.
Tudo passa pela mão dele.
Menos esse empréstimo, que é o rapaz que trabalha aqui que faz esses empréstimos.